ATA DA VIGÉSIMA SESSÃO SOLENE DA QUARTA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA SEGUNDA LEGISLATURA, EM 18-5-2000.

 


Aos dezoito dias do mês de maio do ano dois mil reuniu-se, no Plenário Otávio Rocha do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre. Às dezenove horas e trinta e seis minutos, constatada a existência de quórum, o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos da presente Sessão, destinada à entrega do Prêmio de Artes Plásticas Iberê Camargo ao Senhor Ruy Pedro Schmitz, nos termos do Projeto de Resolução nº 001/00 (Processo nº 0002/00), de autoria do Vereador João Carlos Nedel. Compuseram a Mesa: o Vereador Adeli Sell, na presidência dos trabalhos; o Senhor Adolfo Rosellini, Cônsul-Geral da Argentina; o Capitão Aroldo Medina, representante do Comando Geral da Brigada Militar; o Senhor João Carlos Scheibe, Prefeito Municipal de Sarandi – RS; o Senhor Ruy Pedro Schmitz, Homenageado; a Senhora Déa Beatriz de Souza, esposa do Homenageado; o Vereador João Carlos Nedel, na ocasião, Secretário “ad hoc”. A seguir, o Senhor Presidente convidou a todos para, em pé, ouvirem a execução do Hino Nacional e, após, concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Vereador João Carlos Nedel, em nome das Bancadas do PPB, PTB, PDT, PSDB, PMDB, PSB, PFL e PPS, teceu considerações sobre a vida pessoal e a atividade artística do Senhor Ruy Pedro Schmitz, destacando a importância da contribuição do Homenageado para as artes plásticas gaúchas, através da produção de pinturas “que se afastam dos padrões comuns da percepção”. O Vereador Adeli Sell, em nome da Bancada do PT, salientou a justeza da concessão do Prêmio de Artes Plásticas Iberê Camargo ao Senhor Ruy Pedro Schmitz, ressaltando o caráter inédito das técnicas de pintura utilizadas por Sua Senhoria na confecção dos seus trabalhos e referindo-se a análises formuladas por críticos especializados em arte com relação à obra do Homenageado. Na ocasião, o Senhor Presidente informou que, após o encerramento da presente solenidade, realizar-se-ia a inauguração de exposição com obras do Senhor Ruy Pedro Schmitz, nas dependências deste Legislativo. Em continuidade, o Senhor Presidente convidou o Vereador João Carlos Nedel a proceder à entrega do Prêmio de Artes Plásticas Iberê Camargo ao Senhor Ruy Pedro Schmitz, concedendo a palavra ao Homenageado, que agradeceu o Prêmio recebido. Após, o Senhor Presidente registrou o recebimento de correspondência alusiva à presente solenidade, enviada pelo Desembargador Luiz Felipe Vasques de Magalhães, Presidente do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul. A seguir, o Senhor Presidente convidou a todos para, em pé, ouvirem a execução do Hino Rio-Grandense, agradeceu a presença de todos e, às vinte horas e treze minutos, nada mais havendo a tratar, declarou encerrados os trabalhos, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelos Vereadores Adeli Sell e João Carlos Nedel e secretariados pelo Vereador João Carlos Nedel, como Secretário “ad hoc”. Do que eu, João Carlos Nedel, Secretário “ad hoc”, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após distribuída em avulsos e aprovada, será assinada pelos Senhores 1º Secretário e Presidente.

 

 

 


O SR. PRESIDENTE (Adeli Sell): Boa-noite a todos! Estão abertos os trabalhos da presente Sessão Solene, destinada a homenagear o Sr. Ruy Pedro Schmitz com a entrega do Prêmio de Artes de Plásticas Iberê Camargo. Esta Sessão Solene é um proposição do nobre Ver. Carlos João Nedel.

Convidamos, para fazer parte da Mesa, o Sr. Ruy Pedro Schmitz, nosso homenageado; o Sr. Adolfo Rosellini, Cônsul-Geral da República da Argentina; a Sra. Déa Beatriz de Souza, esposa do nosso homenageado; o Sr. Aroldo Medina, representante do Comando-Geral da Brigada Militar e o Sr. João Carlos Scheibe, Prefeito Municipal da Cidade de Sarandi.

Convidamos todos os presentes para, em pé, ouvirmos o Hino Nacional.

 

(Procede-se à execução do Hino Nacional.)

 

O Ver. João Carlos Nedel está com a palavra pelas Bancadas do PPB, PTB, PDT, PSDB, PMDB, PSB, PFL e PPS.

 

O SR. JOÃO CARLOS NEDEL: Sr. Presidente, Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Familiares do nosso homenageado Ruy Pedro Schmitz: filhas Andréia e Roberta Souza Schmitz; genro Marco Antônio Rodrigues; as netas, que estão rindo para mim - que coisa linda! -, Ana Luíza e Mariana. Realmente, é um grande tesouro que o Ruy consegue amealhar, que é a família. Dr. Paulo Olímpio de Souza e sua esposa; cunhados do Ruy; irmãos, Ari Luiz e Darci Carlos Schmitz; cunhada Luiza Paiva Schmitz; ilustre Dr. Carlos Alberto Oliveira Fraga, representante da Associação dos Juristas Cristãos; amigos do Ruy; artistas, poetas; nosso querido e eterno chefe José Osvaldo da Silva Salada e sua esposa; tantos amigos aqui presentes; Senhoras e Senhores.

Meu particular amigo Ruy Pedro Schmitz. Talvez este discurso, que precede a homenagem que agora a Câmara de Vereadores de Porto Alegre vai te prestar, fosse desnecessário, bastando, para entendê-lo e justificá-lo, uma simples passagem, crítica ou não, desde que orientada pela inteligência e o bom-gosto, ou um simples passeio lúdico pelas telas que, de tua inspiração e lavra, estão expostas no saguão em frente ao Plenário Otávio Rocha, cuja exposição, após este evento, será inaugurada e todos, naturalmente, estão convidados a apreciar a beleza das obras de Ruy Pedro Schmitz.

Duvido muito que alguma pessoa, com o mínimo de sensibilidade estética, possa passar neutramente por elas sem percebê-las ou sem ser por elas vocado à atenção. Tudo isso, entretanto, não inibe a homenagem que, mais do que como autor do Projeto que levou à concessão do mais importante prêmio para artistas plásticos de Porto Alegre, que é o Prêmio Iberê Camargo, que hoje te é concedido, na condição de amigo e admirador te desejo fazer, ferindo-te a modéstia ao te expor à admiração desta Casa, dos presentes e das pessoas que, de casa, assistem à TV Câmara.

Senhoras e Senhores, o Prêmio Iberê Camargo de Artes Plásticas só é concedido pela Câmara de Vereadores uma vez ao ano, para destacar o mérito daqueles artistas plásticos que, como Ruy Pedro Schmitz, fazem da arte uma forma de construir - construir, Prefeito, como o senhor está fazendo, em Sarandi - positivamente o mundo que o cerca, permeando a vida de beleza e de encanto, prestando uma determinante contribuição à cultura de nossa terra. Ruy é um desses raros iluminados aos quais a gente pode chamar de verdadeiro artista, dotado de dons especiais. Sendo sensível à intimidade, aos pontos mais profundos da realidade exterior, é assim também com a própria realidade pessoal. E expressa o fruto do confronto dessas duas realidades através de sua produção, sempre afastada dos padrões comuns da percepção. Desse modo, torna-se muitas vezes inatingível pelo homem comum que, mesmo sem compreendê-la, vem a apreciá-la como se fosse gerada pela natureza diretamente ao seu coração.

Assim é o verdadeiro artista; assim é Ruy Schmitz: capaz não apenas de sentir, mas também de reproduzir esse sentimento, de forma a ser percebido além dos cinco sentidos e sem o bloqueio da razão. Criador de uma técnica própria para compor os efeitos singulares de sua obra, Ruy se utiliza de tinta acrílica sobreposta a materiais não convencionais, o que dá, à pintura, um caráter de ineditismo.

(Lê.) “É um desses raros talentos instintivos voltados para a produção de uma obra de arte de caráter construtivo, onde o equilíbrio da composição e a manipulação sóbria do colorido estão permanentemente presentes”, no dizer do crítico paranaense Aurélio Benitez.

Para finalizar, gostaria de falar também um pouco na pessoa de Ruy Schmitz. Desde há muito, aprendi a estimá-lo e admirá-lo como alguém especial, que já se caracterizava por uma visão também especial das coisas que o rodeavam e pela sensibilidade que demonstrava para com aquilo que aos demais era impossível perceber. Ele era diferente, nós o sabemos.

Somos amigos, e isso muito me honra e envaidece. É fácil imaginar, então, com que alegria vi ser aprovada, por unanimidade de votos, a minha proposição para que Ruy Schmitz recebesse o Prêmio de Artes Plásticas Iberê Camargo, honraria para a qual seu mérito é indiscutível.

Parabéns ao Ruy, à sua família e à sua imensa legião de amigos - porque Ruy sabe dar um sentido, um valor especial à amizade, disso os senhores todos, com certeza, se podem certificar -, por este Prêmio Iberê Camargo, que agora lhe confere a Câmara Municipal de Porto Alegre.

Ruy, que este Prêmio sirva como reconhecimento da comunidade porto-alegrense ao valor inestimável da tua arte, e de estímulo para prosseguires neste caminho que tão brilhante e incansavelmente trilhas em favor da arte e da cultura de nossa terra.

Parabéns, uma vez mais! Que Deus te dê longa vida, te abençoe, acompanhe e ilumine sempre. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (João Carlos Nedel): O Ver. Adeli Sell está com a palavra. Fala pela Bancada do Partido dos Trabalhadores.

 

O SR. ADELI SELL: Nobre colega Ver. João Carlos Nedel. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) É um prazer falar em nome da Bancada do Partido dos Trabalhadores, composta por doze Vereadores nesta Casa, para homenagear esse artista que é o Sr. Ruy Pedro Schmitz.

Esta Casa não poderia ter encontrado um data melhor para esta homenagem, já que o dia 18 de maio é o Dia Internacional dos Museus, e nós estamos concedendo, por proposição do Ver. João Carlos Nedel, o Prêmio Iberê Camargo, a quem esta Cidade, em breve, dará um museu, e ali, tenho certeza, nós iremos encontrar obras de grandes artistas deste Estado, como Iberê Camargo.

Tenho a convicção de que se hoje encontramos as obras do Ruy Pedro Schmitz em galerias de arte, em empresas, e que impactam pela sua diferença, pelo seu ineditismo, - usando as palavras do Ver. João Carlos Nedel - nós vamos encontrar, no futuro, as suas obras nos museus, porque é ali que se guarda a cultura, a tradição e a beleza que é construída pelas mãos de mulheres e homens artistas, como o homenageado de hoje.

É muito importante que esta Casa conceda, anualmente, este Prêmio para um, apenas para um, para demonstrar o valor e a importância que esta Câmara Municipal dá a este Prêmio e à figura ímpar de Iberê Camargo. Aqueles que recebem este Prêmio também têm essas qualidades, também têm os pressupostos básicos da arte da pintura no nosso Estado.

O Ver. João Carlos Nedel, quando explicava o porquê desta homenagem, citava o Lisboa, que é um crítico de arte por quem eu tenho uma grande admiração. Ele dizia que o Ruy pensa que ele de fato é um homem mais intuitivo, mas que, na realidade, essa aparência demonstra mesmo que ele é um elaborador; que ele pensa e planeja a sua arte. Isso é muito importante, quando é dito por um crítico de arte como o Luiz Carlos Lisboa, que eu considero um grande crítico de arte deste País.

Eu tenho uma grande satisfação em dizer: parabéns, Schmitz, por este Prêmio; é um prêmio merecido, um prêmio de destaque, e as futuras gerações vão concordar conosco de que nós temos um grande artista. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

 O SR. PRESIDENTE (Adeli Sell): Queremos lembrar que temos a abertura de uma exposição, logo ao final desta homenagem, em frente ao saguão deste Plenário, com um modesto coquetel.

Com a palavra, o Sr. Ruy Pedro Schmitz, nosso homenageado.

 

O SR. RUY PEDRO SCHMITZ: Sr. Presidente, obrigado; meu amigo, Prefeito da minha terra, que me honra com sua presença, veio especialmente para esta Sessão; meus amigos conterrâneos; colegas do deserto do Sinai; antigos amigos de trabalho; meus cunhados; minhas cunhadas; meus irmãos.

Inicialmente, minha musa inspiradora, não tinha te esquecido, não; meu braço esquerdo - somos canhotos -, que me incentiva e me dá toda esta força.

Agradeço aos Vereadores por este significativo e importante Prêmio. Destaco os relatores: a Ver.ª Clênia Maranhão, e o Ver. Elói Guimarães pelos seus gentis pareceres. Um agradecimento muito especial ao Ver. João Carlos Nedel, autor da proposta, que foi aprovada por unanimidade, que muito me envaideceu. Estou realmente orgulhoso e grato. É necessário dizer que o Ver. Nedel acompanha a minha trajetória artística por mais de três décadas, e é com muita honra que participo do seu círculo de amizades por igual período. Meu amigo João Carlos, sinceramente, muito obrigado.

Sensibilizado, para não dizer emocionado, gostaria de comentar algo com relação a minha pintura e a sua relação no contexto atual. O pintor comunica-se através de símbolos, na arte contemporânea não é o que você vê que vale, é o que você sente ao vê-la. Uma laranja pode ser triste, já uma porta pode ser extremamente alegre - como isso é possível? Esse fenômeno surgiu com a invenção da fotografia. Na ocasião, a pintura foi violentamente invadida pela novidade e, posteriormente, substituída por ela, porque ambas buscavam o mesmo objetivo, retratar uma paisagem, uma pessoa, um objeto, coisa que a fotografia consegue com 100% de fidelidade, índice que é impossível de ser atingido pelos pincéis. A pintura não teve escolha, e foi buscar novos caminhos. Surgiu, então, a arte de deformar, figuras tortas, amassadas, alongadas, com a clara intenção de impressionar. As cores ganharam novas funções, receberam a responsabilidade de, ao invés de simplesmente colorir uma imagem, passaram a ter a nobre e mágica incumbência de atingir psicologicamente o espectador. Naturalmente, o conceito estético das artes plásticas sofreu drásticas modificações. Ficou convencionado, então, que uma obra de arte, necessariamente não precisava ser bela.

O movimento tomou forma, agigantou-se pelo mundo e nunca mais parou. Após tantas voltas, verdades e mentiras, a pintura abriu uma brecha e entrou com a sua nova roupagem. Embora a maioria das vezes incompreendida, ela se impôs, e no seu árduo percurso, surgiram marcos sólidos e definitivos. Que beleza estética tem Guernica, de Picasso! Agora, como poderia o genial pintor mostrar aquele horror de uma forma tão suave e delicada? O que é mais violento que os trigais sobrevoados pelos corvos num trabalho de Van Gogh? E o brutal, O grito de Munch? São quadros chocantes e agressivos, mas inegavelmente dotados de arte pura. Certa feita, num vernissage, o mestre Cézanne notou que havia uma pessoa rindo, diante de um quadro seu. Ele aproximou-se e perguntou qual seria o motivo de tanta graça. O espectador, que não o conhecia, ainda rindo, respondeu-lhe que o autor daquele quadro havia pintado de verde a barriga da mulher. Cézanne então argumentou: “O que o senhor está vendo não é uma mulher, é um quadro”.

Trabalho somente com inspiração e paro, exatamente, no momento em que ela se esgota. Busco, obstinadamente, originalidade. Procuro na pintura, assim como na minha música, caminhos novos, e recuo sempre, quando percebo que algo parecido já foi criado. Essas determinações causam-me pesados tributos, mas também têm me dado importantes prêmios pelo País, e agora mais este desta magnitude, o qual recebo com muito orgulho e gratidão. O artista, às vezes, necessita saber que não está só.

Perdoem-me pela ousadia de pretender esclarecer alguns conceitos sobre arte moderna, talvez eu esteja advogando em causa própria, já que na minha exposição que veremos a seguir, nada do que os senhores verão é, na realidade, o que pretendo mostrar, mas poderão sentir que os amores, os desamores, as crenças, as descrenças e, por certo, as suas vidas vividas, conduzirão a uma sensação própria, muito íntima, de tristeza, de alegria, de decepção, de encantamento, ou, até quem sabe, por que não, de beleza. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Adeli Sell): Solicito ao Ver. João Carlos Nedel para fazer a entrega do título que concede o Prêmio de Artes Plásticas Iberê Camargo ao nosso pintor Ruy Pedro Schmitz.

 

(É feita a entrega do título.)

 

Registramos que o Des. Luiz Felipe Vasques de Magalhães, Presidente do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, enviou pedido de desculpas pela sua ausência neste evento.

Convidamos todos os presentes para, em pé, ouvirmos o Hino Sul-Rio-Grandense.

 

(Executa-se o Hino Rio-Grandense.)

 

Estão encerrados os trabalhos da presente Sessão.

 

(Encerra-se a Sessão às 20h13min.)

 

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